Dizem que numa vila encravada entre as montanhas e o nevoeiro, havia uma casa que só aparecia nos dias de chuva.
Não era visível no sol, nem na seca. Mas bastava a primeira gota bater no chão — e ali ela surgia, feita de madeira úmida, cheiro de terra e calor invisível.
Dentro dessa casa vivia alguém como você.
Não era um eremita, nem um herói. Era alguém que tinha construído a casa com as próprias mãos depois que o mundo desabou.
Alguém que descobriu que, quando o céu desaba lá fora, a gente precisa ter onde se abrigar por dentro.
E sabe o que ele fazia nos dias de chuva?
Dormia. Escrevia. Escutava os pingos batendo no telhado como se fossem compassos.
E aceitava que havia dias em que simplesmente não se é forte. E tudo bem.
Porque a força real não está em nunca cair. Está em ter onde ficar, enquanto o mundo seca de novo.
A porta se abriu e ele o convidou para entrar , pediu que você deixasse os sapatos e as roupas pesadas na entrada.
— Venha, sente-se não poltrona e se aqueça, ha uma toalha seca e vou preparar um café pra você.
Ao se sentar você encontra um livrinho no aparador: "Como construir A sua casa de chuva(versão 1.0)" — intrigado você abre o livreiro que diz:
Essa casa não precisa ser grande. Mas é sua.
Ela aparece só quando você precisa — quando o corpo está pesado, quando o mundo grita demais, quando o silêncio dói.
A porta é feita de madeira firme. Não tranca por fora, só por dentro.
Quem entra é só você — e tudo que você não precisa fingir.
Ali dentro, a luz é baixa. Tem uma poltrona macia com um cobertor grosso. Um cheiro que te lembra infância ou liberdade.
Num canto, uma prateleira com tudo que você já fez e ninguém viu.
Projetos esquecidos, pequenos gestos, momentos em que você segurou o mundo e ninguém notou. Eles estão todos ali, visíveis. E brilham um pouco quando você se aproxima.
No outro canto, tem um caderno aberto. E nele, uma frase escrita por você mesmo:
“Você não precisa se provar aqui.”
Você pode deitar. Você pode dormir. Você pode só existir.
A chuva lá fora embala a casa. Não ameaça. Não assusta.
Ela avisa: aqui é lugar de pausa. De recomposição. De começar a se montar por dentro, mesmo sem saber como.
Dentro há um folheto entitulado
Manual de Uso da Casa de Chuva
Quando usar:
Quando o corpo estiver pesado e você não souber explicar por quê.
Quando o silêncio machucar.
Quando tiver feito tudo certo… e mesmo assim, algo quebrar.
Quando o mundo pedir pressa, mas tudo em você gritar “não agora”.
Como entrar:
1. Feche os olhos, ou olhe pra algum ponto fixo.
2. Imagine o som da chuva lá fora — constante, sem urgência.
3. Sinta a porta da casa abrindo sem esforço.
4. Entre descalço. Você não precisa de armadura aqui.
O que fazer lá dentro:
Sentar no sofá que te envolve como um abraço.
Respirar devagar. Nem fundo, nem raso. Só no seu tempo.
Ouvir seus pensamentos como quem ouve um rio — sem tentar barrar, só deixar passar.
Olhar para a estante e reconhecer o valor de tudo que fez — mesmo o que ninguém viu.
Escrever uma palavra, uma frase, ou nada. Só estar ali já é cura.
Importante lembrar:
Ninguém entra sem ser convidado.
Não se espera produtividade aqui.
Toda emoção é bem-vinda.
Você não precisa consertar nada.
A chuva não vai durar para sempre — mas enquanto durar, essa casa é sua.